Nova edição da Revista do EDICC aborda controvérsias em ciência, cultura e tecnologia

Em 2021, a oitava edição do EDICC (Encontro de Divulgação de Ciência e Cultura), do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Unicamp, se concentrou na temática das controvérsias. Nesse evento organizado anualmente pelos pós-graduandos em Divulgação Científica e Cultural, são apresentadas pesquisas em curso ou já concluídas nas áreas diversas que compõem a interdisciplinaridade do programa de mestrado. São ainda realizadas mesas-redondas que atravessem o tema do encontro, as quais reúnem docentes e pesquisadores do Labjor, bem como de outros institutos e coletivos de todo o Brasil.
Nos 28 artigos que compõem a edição, atravessamos campos de estudo e materiais de análise que são caros ao Labjor. No entanto, as pesquisas presentes neste volume majoritariamente se construíram no período pandêmico e são sensíveis às suas questões. Há trabalhos de Divulgação Científica que descrevem iniciativas de difusão de ciência no digital realizadas pelos próprios pesquisadores, assim como análises de percepção pública da ciência e jornalismo científico. Nesse grupo de trabalhos, os objetos de pesquisa são vários: ecojustiça, bioética, óptica, hidroxicloroquina para tratamento de coronavírus, divulgação científica para crianças, colonização de marte, evolução biológica, etarismo, segurança alimentar e jogos didáticos com perspectiva étnico-racial.
Outro grupo de trabalhos se interessou sobretudo por análises e reflexões de problemáticas sociais em como elas circulam nas multimídias, dando relevo aos tensionamentos sociais, políticos, e culturais na sua relação com a tecnologia. São trabalhos sobre visualidades contemporâneas, Síndrome dos Ovários Policísticos e cirurgias plásticas no Facebook, gordofobia, direitos trabalhistas, imprensa feminista, representatividade autista, e comunicação relacional.
Por fim, os demais artigos formam um grupo especialmente alinhado com a verve cultural e artística do Labjor. São pesquisas sobre oficinas audiovisuais, a problemática dos resíduos em performance teatral, a poeta Safo e sua trajetória no imaginário social, telenovelas, a idealização da literatura nacional, e perspectivas que textos como A peste e Sexta-feira ou os Limbos do pacífico nos trazem para adiar o fim do mundo, como afirma Ailton Krenak.
No ano de 2021, a comissão organizadora do EDICC tinha o desafio de delimitar um escopo temático que tivesse relevância ao tempo presente: um cenário de colapso sanitário, político, social e ambiental. Não podíamos deixar de ser responsivos a essa realidade, sobretudo na delicada situação em que se encontram a produção e a divulgação das ciências no país. Ao mesmo tempo, buscávamos um tema que não reforçasse a ilusão de que a ciência e a cultura se fraturaram apenas nos últimos anos – com a circulação do Sars-CoV-2 e a necropolítica bolsonarista. Mas, sim, que o estado de emergência em que nos encontramos como pesquisadores é uma continuidade de sucessivos atravancamentos que afetam o conhecimento e a arte quando estes se mostram em sua potência irruptiva. Uma lógica neoliberal, utilitarista e precarizada, está em curso há tempos, e atravessa os trabalhos científico, educativo, artístico, jornalístico – em suma, todas as esferas em que a linguagem e o político são tensionadas e materiais de análise. Por isso, pautamo-nos numa noção de controvérsia que não é oposto de conformidade – no que esta suporia de “consenso”. Mas, sim, apostamos na controvérsia como materialização das múltiplas existências e percepções, o terreno fértil em que conhecimento e arte se desenvolvem.

 

Descrição da imagem: logo do EDICC 8 “Controvérsias”, com suas esferas brancas (uma grande e uma menor) que se espelham e se completam sobre um fundo marsala. Com o ISSN da Revista: ISSN 2317-3815. Créditos da imagem: identidade visual por @malenastariolo

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