A verdade é vermelha: um projeto audiovisual sobre menstruação
Sou Luna Beatriz, tenho 17 anos, estou no ensino médio e sou bolsista na pesquisa “Menstruação e Antropologia: Multiplicando possibilidades para alcançar dignidade”. Escolhi fazer a iniciação científica porque era uma grande oportunidade. A ciência me remete muito ao conhecimento verdadeiro. Não tinha tanta ideia sobre isso, só queria aprender algo que me desse satisfação. Ao descobrir que fui selecionada para o PIBIC, me deparei com o projeto escolhido para mim: Antropologia e Menstruação. Eu fiquei surpresa, pensando em algo biológico. Pensei “essa não é minha área, como vou falar sobre menstruação? o que vou aprender com isso?”. Mas tinha uma palavra ali muito interessante: “antropologia”. Havia aprendido um pouco sobre na escola, foi o que me prendeu. O fato de relacionar menstruação com antropologia era bem louco e até estranho de pensar. Quando lembro disso, depois de tudo que aprendi, eu vejo o quanto nós somos educadas para pensar apenas no sentido biológico da menstruação, esquecendo as outras formas de mexer com o ser humano, culturalmente, politicamente e até mesmo inconscientemente.
Durante o projeto, produzi uma música e um clipe. Ambos foram baseados em tudo que eu havia aprendido até o momento. Uma das coisas que mais me inspirou foi um artigo que li sobre como a menstruação é representada midiaticamente. Nele, tinha uma análise sobre como o sangue era mostrado nos meios de comunicação: na maioria das vezes era azul, flores ou colorido, e o período menstrual costuma ser retratado de maneira muito fantasiosa ou velada, fugindo completamente da nossa realidade durante esse momento nosso. Não acordamos sentindo gosto de algodão doce logo de manhã, sabe? Nós temos que lidar com nossa menstruação, as dores, incômodos e toda a vulnerabilidade.
O objetivo da minha produção é de causar um “choque positivo”, mostrei o sangue menstrual real, o que foi um dos meus maiores desafios. Digo na letra da música, “quantas vezes eu vou ter que chocar você?”, pensando na dificuldade de sermos ouvidas e até mesmo de mostrar a realidade, mostrar a cor do sangue. Deixei tudo o mais vermelho possível, da cor das unhas até a lâmpada. Gosto de falar que esse é o nosso período vermelho, o que sai de nós está vermelho, sentimos o vermelho e vemos o vermelho. Coloquei bastante natureza no vídeo, árvores, folhas, terra e fogo. Toda a estética, linguagem corporal e pequenos detalhes foram pensados para conseguir expressar os sentimentos e até mesmo as perguntas que temos durante a menstruação. Eu gosto muito de ouvir as interpretações das pessoas porque isso significa que tocou em algum ponto que nem eu havia pensado antes.
Uma coisa que eu não parava para pensar e hoje eu penso muito é no desenvolvimento da pesquisa científica, toda a construção de ideias e dados, os vários erros e métodos que temos que passar para chegar a um resultado exato e positivo. Hoje a ciência para mim tem muito mais a ver com a experiência real vivida para chegar ao saber.