Seu perfil em rede social não é seu: a experiência do projeto “Cientista Social Pesquisa”
Em primeiro de agosto de 2022, nós publicamos o “olá pro mundo” do #1 “Cientista Social Pesquisa…?” no Instagram. Durante nosso projeto de iniciação científica, discutimos uma lacuna no reconhecimento dos temas que são estudados por cientistas sociais, especialmente por jovens. Pensando nas nossas próprias motivações para escolher esse curso no vestibular, percebemos que o contato com alguma temática de pesquisa foi importante para que entendêssemos, de forma prática, o que pesquisa um ou uma cientista social.
Decidimos criar um perfil no Instagram para compartilhar diferentes temáticas de pesquisas para celebrar a diversidade de temas estudados pelos nossos colegas. As ideias fervilhavam: discutir o projeto em escolas, pedir vídeos aos autores…
A descrição também era uma forma de manifesto: “Nós acreditamos que todos os temas que podem ajudar a explicar fenômenos sociais são possíveis de serem estudados nas Ciências Sociais”. Em 12 de setembro de 2022, compartilhamos a primeira publicação com pesquisas sobre animes e mangás: três dissertações de mestrado, um trabalho de conclusão de curso, um artigo em periódico e um capítulo de livro.
Pouco tempo depois, fomos lembradas de uma informação sobre a qual discutimos pouco no campo da divulgação científica: quando criamos um perfil em uma rede social, aquela conta não é nossa, é da plataforma. Tivemos um problema com a senha, perdemos o acesso à conta e todas as tentativas de reavê-la diziam “não conseguimos confirmar que você é você”. A estratégia de recuperação automática da plataforma – não sonhe que você conseguirá falar com um humano! – envolve o envio de um vídeo em formato selfie para que o reconhecimento por inteligência artificial verifique se o mesmo rosto pode ser encontrado nas publicações. Se não o é, a mensagem de retorno lamenta, mas diz que não será possível recuperar sua conta, desconsiderando os milhões de perfis de projetos, empresas e ONGs que não são contas pessoais.
Foram meses de tentativas de recuperar o perfil sem sucesso e, diante de tamanha frustração, nossa empolgação com o projeto também diminuiu, as reuniões foram se tornando mais espaçadas e, om isso, paramos. Certo dia, sem qualquer auxílio da plataforma, conseguimos reestabelecer um antigo número de telefone (antes desabilitado) e redefinir, então, a senha do perfil, que esteve parado de 2022 a 2024. Retomamos as publicações em 22 de fevereiro e, dois anos depois, estamos reformulando o que queremos nesta nova fase do projeto.
Além da regulação das redes sociais, é preciso que pensemos sobre o uso destas para divulgação científica e de que formas podemos nos proteger também de decisões arbitrárias, como o cancelamento definitivo de diversas contas unilateralmente. Da mesma forma que a ocupação das redes faz parte de uma estratégia de disseminação, o retorno aos blogs, sites e newsletters onde podemos ser proprietárias do espaço pode ser uma estratégia de escape da lógica dessa Internet de hoje centrada em plataformas.
A autoria do texto é de Beatriz Klimeck, Laura Guimarães e Heloisa Rocha.
Créditos da imagem: Captura de tela de Beatriz Klimeck