Educar para Menstruar!
Há quase dez anos o sangue menstrual tem sido combustível para minhas investigações pessoais, artísticas, políticas, sociais e científicas. Como marco comemorativo para uma década de investigação, neste semestre, dou início a uma pesquisa de pós-doutorado, no Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), vinculado ao Núcleo de Desenvolvimento da Criatividade (Nudecri), da Unicamp, intitulada: “Educação menstrual nas escolas: impactos e desafios na promoção da dignidade menstrual”.
O objetivo central deste estudo é desenvolver uma pesquisa qualitativa que busque refletir sobre como a educação menstrual pode contribuir para uma transformação social, no que concerne a dignidade menstrual, a partir de um programa de educação menstrual a ser desenvolvido com estudantes da rede pública de ensino.
O intuito com o programa de educação menstrual é criar espaços originais e criativos para discussões e vivências sobre menstruação para além da concepção que encara o sangue menstrual como algo negativo e ruim, ou mesmo para além do modelo convencional biomédico, que em geral acaba sendo o mais disseminado e conhecido. Assim, vamos analisar o impacto que esse tipo de iniciativa pode promover na formação dos jovens. Através de interlocuções com múltiplas áreas e disciplinas, tais como a antropologia, a história, as artes, a biologia, dentre outras, buscamos ampliar a discussão sobre o tema e refletir também como os conhecimentos construídos na academia, em diálogo com as narrativas e práticas de meninas, mulheres e pessoas menstruantes podem ser utilizados para romper com os estigmas relacionados à menstruação.
A questão da pesquisa surge a partir da experiência de desenvolvimento do projeto “Menstruação sem Tabu”, que envolveu a realização de oficinas de educação menstrual com os alunos do primeiro ano do ensino médio integrado ao técnico, do Instituto Federal Sudeste, Campus Barbacena, Minas Gerais, e com os estudantes do 8º e 9º ano, do ensino fundamental, de duas escolas públicas municipais da mesma cidade.
O primeiro contato com o campo abre a possibilidade para muitas reflexões e questionamentos: Quais são os desafios de implementação deste tipo de projeto na rede pública de ensino? Como é a recepção dos estudantes e da comunidade escolar diante deste tema? Como meninas e meninos acolhem ou não esta abordagem? Quais os desafios para o desenvolvimento de metodologia e conteúdo para esse tipo de programa? A educação menstrual é capaz de mudar as concepções sociais sobre a menstruação?
Essas são algumas perguntas que buscaremos elaborar nesta pesquisa-ação, que não só busca contribuir para as discussões sobre menstruação, gênero e sexualidade no campo da antropologia, da educação e da política, como também procura atuar em direção aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, que dizem respeito a igualdade de gênero, a erradicação da pobreza, a promoção de saúde e bem-estar e ao acesso à educação de qualidade.
Descrição da imagem: Aluna participante da oficina de educação menstrual do projeto “Menstruação sem Tabu”. Crédito da fotografia: Júlia Marcier.