Dando o sangue: é possível que empreendimentos que visam lucro estar engajados politicamente pela dignidade menstrual? Este é um embrolho que estou de olho no meu doutorado!

Meu nome é Gabriela Paletta e chego este semestre como doutoranda do PPGCS/IFCH, orientanda da prof. Daniela Manica e colaboradora do Labirinto. Meu projeto de pesquisa que está em desenvolvimento se chama “Mulheres que correm entre lobistas: ativismos, dignidade menstrual e empreendedorismo feminino” e é um desdobramento do trabalho que venho fazendo desde o mestrado de me debruçar criticamente sobre o crescente mercado que o sangue menstrual tem mobilizado, embasada nos estudos críticos Feministas à Ciência e na Antropologia da Ciência e Tecnologia.

Encontro motivação política para esta nova pesquisa no curioso fato de que, em 8 de março de 2022, foram assinados tanto o decreto da “Estratégia Nacional de Empreendedorismo Feminino” quanto a criação do “Programa de Proteção Menstrual à Saúde Menstrual” (Lei 14.214/21), mesmo depois de ter sido vetada a proposta de distribuição gratuita de absorventes pelo então presidente Jair Bolsonaro. Hoje diversos avanços estão acontecendo com a distribuição de absorventes nas farmácias populares para famílias cadastradas, avanços esses que são dignos de serem olhados com calma e cautela.

O objetivo geral desta pesquisa é compreender como ativismos menstruais estão agenciados a empreendedorismos femininos e através de que arranjos tecnológicos. Desde 2015, o mercado de gestão do sangue menstrual e de higiene tem crescido pelo menos na oferta da quantidade e variedade de produtos no Brasil. Produtos como absorventes reutilizáveis voltam ao mercado repaginados para as consumidoras: não estão mais associados aos “velhos paninhos”, mas representam sustentabilidade, tecnologia e propõe determinados sentidos de autonomia, empoderamento e engajamento político. Os coletores menstruais já implicam as usuárias na necessidade de tocar a vulva, seu colo do útero e o sangue menstrual, cutucando assim em alguns tabus que o uso massivo de absorventes descartáveis acabou endossando como prática comum: não é preciso ver, tocar, armazenar ou sentir o sangue menstrual. Outros produtos que tem ganhado destaque no mercado são as calcinhas/cuecas e biquínis absorventes, toalhas absorventes e discos menstruais, por exemplo.

E assim menstruar tem se tornado um grande ritual econômico, o que é um ponto sensível para esta pesquisa. Para analisar e especular possíveis relações entre ativismo menstrual, empreendedorismo feminino e dignidade menstrual, desejo eleger três empreendimentos femininos brasileiros que estejam engajadas de alguma forma na luta pela dignidade menstrual desenvolvendo tecnologias e inovações para gerir o fluxo de sangue menstrual. Será necessário conhecer seus modelos de negócio, produtos desenvolvidos, ações sociais que promovam, seu ecossistema, sócios, propósitos e como entendem seu posicionamento político e o impacto que estão produzindo.

 

 

Descrição da imagem: Manchas de sangue sobre canson. Créditos: Gabriela Cabral Paletta.