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Zolpidem

O Zolpidem é um sedativo hipnótico (para indução do sono) utilizado para o tratamento de insônia e entrou no mercado no início dos anos 1990. Em 2013, a agência federal americana de regulação de alimentos e medicamentos (FDA) notificou o público sobre o uso do Ambien – nome comercial do medicamento utilizado para tratamento de insônia, com o princípio ativo Zolpidem – e os riscos da manhã seguinte para atividades, que exijam completo estado de alerta, como dirigir. Nessa notificação, o FDA anunciou que a dose recomendada do Zolpidem seria reduzida pela metade para mulheres. Com a justificativa de que há diferenças na metabolização desse fármaco entre os sexos, o que faz com que mulheres tenham maiores concentrações do fármaco na manhã seguinte e, por isso, maiores riscos de eventos adversos (FDA, 2013). 

A decisão da redução da dose recomendada foi baseada em estudos de laboratório e simulações de direção. Esses estudos indicaram que níveis desse medicamento no sangue acima de 50 ng/mL seriam capazes de prejudicar a direção ao nível de aumentar a chance de risco de acidente de carro. O FDA também afirmou estar baseando essa decisão em um ensaio farmacocinético com 10 mg de Ambien, que inclui aproximadamente 250 mulheres e 250 homens. Esse ensaio reportou que 15% das mulheres e apenas 3% dos homens apresentavam concentrações acima de 50 ng/mL oito horas após a ingestão da dose (FDA, 2013). Nenhum desses estudos encontra-se disponível. 

Ambien se tornou o primeiro medicamento a apresentar dose diferente entre homens e mulheres – e o único que é possível encontrar relato até o momento. No entanto, nenhuma outra agência regulatória ao redor do mundo tomou uma decisão similar (GREENBLATT; HARMATZ; ROTH, 2019). Das 16 bulas para o profissional consultadas no bulário eletrônico da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – agência brasileira institucional vinculada ao Ministério da Saúde e responsável por promover a proteção da saúde da população, incluindo regulamentação de medicamentos no Brasil -, após a pesquisa por Hemitartarato de Zolpidem, nenhuma faz menção a diferença farmacocinética entre os sexos (Bulário ANVISA, 2023). 

Em 2019, um trabalho questionou a decisão do FDA, reportando que não há nenhuma evidência que sustente o limite de 50 ng/mL e que analisando dados de diversos estudos, indica que a eliminação do medicamento em mulheres é em média 35% mais lenta do que em homens. Mas que após 8 horas da dose oral, nem mulheres nem homens apresentaram capacidade de direção prejudicada, em um estudo com 32 mulheres e 28 homens (GREENBLATT; HARMATZ; ROTH, 2019). Outros trabalhos questionaram essa decisão da redução da dose do medicamento. No entanto, o FDA manteve sua decisão e trouxe atenção para existência de diferenças fisiológicas entre os sexos clinicamente relevantes, ou seja, que podem causar desfechos clínicos diferentes.

 

Referências

Greenblatt, David. Harmatz, Jerold, Roth, Thomas. Zolpidem and Gender: Are Women Really At Risk? Journal of Clinical Psychopharmacology,  n 39, p 189-199. 2019.

Food and Drugs Administration US. FDA Drug Safety Communication: Risk of next-morning impairment after use of insomnia drugs; FDA requires lower recommended doses for certain drugs containing zolpidem (Ambien, Ambien CR, Edluar, and Zolpimist). 2013. Disponível em: <https://wayback.archive-it.org/7993/20170404172106/https://www.fda.gov/Drugs/DrugSafety/ucm334033.htm>. Acessado em 12 de jun de 2023. 

ANVISA, Brasil. Bulário eletrônico. Disponível em: <https://consultas.anvisa.gov.br/#/bulario/>. Acessado em 12 de jun de 2023. 

 

Palavras-Chave: medicamento; gênero; saúde; evento adverso a medicamentos

 

Autoria: Fernanda Mariath

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