Entrevistando Sneha Khedkar: jornalismo científico, menstruação e alianças feministas
No ano passado, a professora Daniela Manica recebeu um e-mail que nos interessou muito. Uma jornalista de ciência queria entrevistá-la sobre seu artigo publicado sobre as células mesenquimais do sangue menstrual. A conclusão principal deste estudo é que essas células são ótimas para se trabalhar, mas praticamente não são investigadas por serem originadas do sangue menstrual, um tecido que é marcado por questões de gênero. Para mim, esse convite foi especialmente instigante, afinal, meu projeto de mestrado é um desdobramento dessa pesquisa e foi uma ótima oportunidade para ler as respostas da minha orientadora sobre as suas intenções e opiniões dos resultados encontrados.
O convite veio da jornalista de ciência Sneha Khedar, bióloga, mestra em Bioquímica, freelancer de há alguns anos e da Índia. Ela cobriu várias histórias no campo da biologia, saúde e medicina, você pode conhecer mais do trabalho dela nesse site. Nas primeiras trocas de e-mail, ela nos contou que foi diagnosticada com endometriose em 2021, depois de passar 14 anos sofrendo com os sintomas. Como bióloga, ela foi atrás de ler diversas pesquisas sobre endometriose até que esbarrou em uma que utiliza as células mesenquimais do sangue menstrual para diagnosticar e como terapia para desordens reprodutivas em corpos com útero. Nessa busca, encontrou o artigo publicado pela professora Daniela, o que proporcionou o contato.
O resultado dessa entrevista, e de várias outras que Sneha realizou, foi o texto “The untapped potential of stem cells in menstrual blood” publicado na Knowable Magazine. Nele, Sneha apresenta as células mesenquimais do sangue menstrual, desde a sua descoberta até pesquisas atuais sobre potenciais aplicações. Ela conclui que com mudanças no financiamento científico, a menstruação pode ser reconhecida como uma nova fronteira excitante na medicina regenerativa e não apenas um inconveniente de todo mês. O que é muito similar ao motivo da professora Daniela iniciar a pesquisa com essas células, que observou no engajamento delas na pesquisa um uso específico do sangue menstrual e totalmente diferente do enquadramento desse tecido como um descarte. Na entrevista, Daniela disse que sua motivação foi principalmente feminista, com intenção de procurar alianças entre mulheres na universidade e propor transformações nas percepções sobre o corpo feminino e seu potencial.
Ancoradas no fortalecimento de alianças feministas no Sul Global e também devido ao alinhamento de interesses e a sua experiência com jornalismo científico e menstruação, convidamos Sneha para uma rodada de perguntas e respostas com o Labirinto, o grupo de pesquisa coordenado pela professora Daniela. Essa palestra foi gravada, legendada e já se encontra disponível no nosso canal do Youtube! Vem conhecer um pouco mais sobre o trabalho interessante da Sneha Khedar e se encantar ainda mais pelas células mesenquimais do sangue menstrual.
Você também pode conferir todas as edições do Encontros no Labirinto clicando aqui!