Laqueadura como método contraceptivo para mulheres sem filhos?
Aos 27 anos de idade, sem filhos, tomei a decisão de realizar uma cirurgia de esterilização voluntária e esse passou a ser o meu principal método contraceptivo desde então. Oferecendo uma eficácia contraceptiva de 95% e baixas possibilidades de reversão, a esterilização feminina (realizada a partir da laqueadura tubária ou da salpingectomia bilateral) tornou-se uma alternativa atraente àquelas mulheres que não vislumbram para si uma gestação e/ou maternidade futura.
Para conseguir acessar esse método contraceptivo que é um direito meu desde 12 de janeiro de 1996 a partir da Lei do Planejamento Familiar (Lei 9.263/96), passei a acompanhar grupos e perfis de redes sociais que discutiam esse assunto, oferecendo informações, dicas, conselhos, relatos e desabafos. Foram nesses espaços que encontrei o que precisava para agendar a minha cirurgia, mas também a percepção de que ali existia uma questão sociológica. Grupos com mais de 10 mil integrantes, perfis de instagram com mais de 70 mil seguidores: desde quando a laqueadura passou a ser um assunto tão interessante? Aquilo me intrigou.
Dentre os relatos de terceiras e minhas próprias experiências, eu percebia que a escolha de um método contraceptivo irreversível era um assunto atravessado por moralidades diversas que tangenciavam os mais diversos campos: gênero, sexualidade, maternidade, religião, demografia, poder, políticas públicas, saúde pública etc. Uma escolha individual estava longe de ser, de fato, singular. O pessoal nunca foi tão político no microcosmos da minha existência. “Nunca” é uma palavra que incomoda demais. E ela foi o motor do meu projeto de mestrado: eu não quero ser mãe. Nunca.
Entretanto, ao mesmo tempo, algo que percebi foi essa valorização da esterilização voluntária como O método contraceptivo ideal para aquelas que não querem ser mães nunca, mas isso nem sempre é verdade. Afinal, segundo o Índice de Pearl (fórmula matemática que avalia a eficácia de um método contraceptivo), existem métodos mais eficazes do que a esterilização feminina, como por exemplo o Implante Subdérmico, popularmente conhecido como Implanon, e os Sistemas Intrauterinos de LNG, popularmente conhecidos como DIUs hormonais. Sendo assim, por que a laqueadura se tornou um poster para a não maternidade?
Ao longo do próximo ano, buscarei responder essa pergunta e compreender como mulheres jovens e sem filhos, como eu, têm optado pela esterilização voluntária como método contraceptivo em detrimento de outras opções de mais fácil acesso. Entender isso é importante não apenas para desvendarmos um fenômeno sociológico, mas também para que dados consistentes sejam gerados e possivelmente utilizados para promover políticas públicas de alcance à justiça reprodutiva no Brasil.
Legenda da imagem: Imagem representando a diversidade de métodos contraceptivos existentes. Créditos: Imagem encontrada na plataforma Pinterest