O Novo Ensino Médio em debate
Sou Thaís Bezerra Novais, tenho dezessete anos, estou na terceira série do Ensino Médio, e participo como bolsista PIBIC da pesquisa “Menstruação e Antropologia: Multiplicando possibilidades para alcançar dignidade”. Fazer parte dessa pesquisa tem sido uma das minhas melhores experiências como estudante. Falar de menstruação é olhar para a antropologia, a política, a economia, o controle social, o racismo, a desigualdade social e entre outras questões. Como uma estudante da terceira série do Ensino Médio no ano de 2023, assim como outros estudantes, passei e tenho passado pelo Novo Ensino Médio, que teve início com a Lei nº 13.415/2017 que mudou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Portanto, pretendo relatar um pouco por meio das minhas vivências como tem sido o Novo Ensino Médio, seus impactos e a realidade dos estudantes neste novo modelo de ensino. A grande mudança no currículo são os itinerários formativos — conjuntos de disciplinas que têm o objetivo de aprofundar os conhecimentos sobre uma área de estudo. Junto com essas alterações se criou um discurso que a mudança traria maior liberdade de escolha e protagonismo para os estudantes. Entretanto, muitos dos itinerários formativos se mostram sem sentido e pouco relevantes, além de que a realidade se revela diferente a respeito da liberdade de escolha das áreas de estudo. Cada escola tem a autonomia para ofertar a quantidade de itinerários formativos que for capaz, o que limita as opções e cria uma desigualdade entre as escolas do país, uma vez que as instituições têm estruturas e investimentos diferentes. Os impactos dessa desigualdade se fazem bem maiores entre as instituições públicas e privadas, pois as escolas privadas apenas acrescentaram os itinerários formativos (em um contra turno), mantendo o currículo antigo. Isso porque muitas das escolas privadas têm como foco o preparo para o Enem e demais vestibulares, os quais permanecem com conteúdos do antigo Ensino Médio. Os vestibulares já são excludentes e promovem desigualdade, e em conjunto com o Novo Ensino Médio, isso se intensifica. Estudantes de escolas públicas agora mais que nunca não estão em paridade para concorrer a vagas em universidades com estudantes de escolas privadas. Estando dentro da universidade, tenho experimentado e visto um mundo com muitas possibilidades e aprendizados. Em contraponto, na escola observo pessoas talentosas e com sonhos limitados por uma barreira econômica e social, por um sistema de poucos para poucos. O Novo Ensino Médio é uma contra reforma, pois agrava uma desigualdade e deforma o ensino brasileiro que, apesar de necessitar de revisões e mudanças, passa a dar passos largos para trás. O Novo Ensino Médio é um retrocesso para sociedade como um todo, não só para a juventude, pois é o futuro educacional de um país que está em questão. É necessário compreender o que está acontecendo, a fim de lutar por meio da organização e mobilização popular pela revogação do Novo Ensino Médio.
Legenda da imagem: Foto da parte de trás do assento do ônibus com a seguinte frase: “Revoga Reforma”. Créditos da imagem: Fotografia de Thaís Bezerra Novais.