Um grande sonho
Quem dera tudo isso fosse um sonho
Que acordássemos e fosse apenas um pesadelo
Quem dera podermos sermos livres
Como passarinhos voando no céu
Quem dera o lençol manchado não fosse um problema
O absorvente marcado na roupa não seria alvo para comentários
E ele não precisasse ser escondido
Quem dera o assunto não gerasse constrangimentos
Que as dores fossem cores as espinhas fossem flores
E meu estômago não precisasse de drogas
As gotas de sangue fossem gotas de chuva
A gente nasce de um grito e tem medo da dor
Medo do que vão pensar como vão reagir
Medo de sermos o que queremos ser
A quem estou tentando enganar?
escondendo meu corpo tanto assim
É deselegante falar do meu corpo em público
Porque a verdadeira biologia dele é real demais
Pra eles entenderem tudo que se passa aqui dentro
O corpo é considerado uma beleza
Mas suas respectivas reações é consideradas nojentas
Incomoda- me a surdez dos meus silêncios
Parece que , em algum lugar, todos os semáforos foram fechados
Pelos cruzamentos vazios e silenciosos só o vento transita livre
E como a água que desce na cachoeira
E a chuva que dê mansinho cai sobre o chão
Não há silêncio,a vida nos acostumou mal
As pessoas fez nos calarmos, fez ficarmos em silêncio
O muito o que o coração quer dizer falar, gritar
Procurar ajuda e,
Deixar claro tudo o que tá aqui dentro
Ah se tudo fosse diferente,
Se fôssemos diferentes,
Menos ignorantes mais compreensivos
Sermos mais empáticos em compreender tudo o que a Mulheres passam em todos os seus
ciclos
Escutar mais julgar menos,
Levar a palavra menstruação a uma referência de natureza e não nojeira
a natureza é tão linda,
Tudo é certinho em nossos corpos
Errado somos nós em como pensamos e agimos
Mas já se passou muitas horas
Acordei pra realidade,creio que um dia esse meu sonho será realizado
E quando acordar tudo não irá ser mais um problema
E todos viveremos sem tabus e sem julgamentos
Mas enquanto esse dia não chegar
Eu fico apenas com a esperança dentro de mim
Que esse dia há de chegar.
Por: Rayssa Parros
Com base no texto: tese “Portal Vermelho: Uma etnografia sobre gênero, corpo, sangue,
emoções e experiência”, de Janaína Morais