Vozes da ciência: o papel da diversidade na comunicação científica

No atual cenário de demandas contínuas por uma aproximação entre o público e a ciência, a comunicação científica é essencial para o desenvolvimento de uma cultura científica mais inclusiva e democrática. Para atingir um público amplo e diverso, no entanto, esse diálogo precisa ser feito por vozes diversas, que possam representar e conversar com diferentes grupos da sociedade.
Esse cenário, entretanto, está longe de ser realidade. Dados de pesquisa em andamento, realizada no Labjor/Unicamp e no âmbito da Agência Bori, indicam que diversidade (em termos de cor/raça, região e gênero) é um parâmetro fora de pauta para jornalistas de ciência (Righetti, 2022). Além disso, a pesquisa também mostrou que os cientistas recorrentemente procurados pela imprensa são, majoritariamente, homens, brancos e do estado de São Paulo – apesar de as fontes de cientistas oferecidas à imprensa serem de todo o país e terem equilíbrio de gênero.
Para Grada Kilomba (2008), na ciência todos partem de um tempo e espaço próprios e específicos – o que também é refletido na comunicação dessa mesma ciência. Quando determinados grupos são sistematicamente barrados da conversa, a cultura científica como um todo perde. Nesse sentido, Canfield (2020) nota que existe uma multiplicidade de identidades na sociedade, que afeta de forma particular o engajamento de grupos inseridos em diferentes contextos políticos e socioculturais com a ciência. Ignorar isso é afastar a sociedade da prática e do conhecimento científico. A diversidade de vozes comunicando ciência, portanto, é essencial para atingir de forma pontual diferentes públicos, estabelecendo um diálogo com maior chance de representatividade e, consequentemente, mais eficiente para engajar as comunidades diversas que compõem a sociedade.
Apesar do crescimento na inclusão e diversidade na ciência nos últimos anos, o avanço ainda é superficial, porque as condições de poder se mantêm as mesmas. Os gatekeepers, tomadores de decisões, líderes e chefes dentro da ciência mundial – que normalmente representam as vozes da ciência, ou seja, quem será ouvido dentro de determinado tema científico – ainda não contemplam diferentes perspectivas de gênero, raça e região. Essas lacunas de diversidade tornam a comunicação da ciência um lugar de exclusividade que, historicamente, exclui comunidades e vozes marginalizadas (Dawson, 2014).
Em meio a tantas demandas e necessidades, ainda existe luz no fim do túnel. Dentre as estratégias para o aumento da diversidade na comunicação científica, talvez uma das mais efetivas seja o esforço ativo e a abertura de espaço para a inclusão de cientistas de diferentes perfis raciais, regionais e de gênero em atividades de comunicação. Para Canfield (2020), é necessário, ainda, que esses grupos sub-representados sejam envolvidos de forma intencional em posições de influência e liderança – espaço que, de fato, detém maior poder de mudança.
Nesse sentido, os espaços da comunicação científica – como o jornalismo, por exemplo – podem e devem realizar esforços no sentido de dar espaço a grupos socialmente e historicamente excluídos de cientistas para construir padrões de referências mais diversos, abrangentes, inclusivos e que possam dialogar efetivamente com a sociedade.

Referências
KILOMBA, G. Quem pode falar? Falando no centro, descolonizando o conhecimento. In: ______. (org.). Memórias da plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2008. p. 47-69.
DAWSON, E. “Not Designed for Us”: How Science Museums and Science Centers Socially Exclude Low-Income, Minority Ethnic Groups. Science Education, 2014, vol. 98, nº. 6, p. 981-1008.
RIGHETTI, S. Percepção da ciência na sociedade: O que pensam jornalistas e cientistas sobre comunicação científica? In: R. J. Ribeiro, Percepção da ciência na sociedade (DWIH-SP). Mesa-redonda realizada na 74ª Reunião Anual da SBPC, Universidade de Brasília, Brasília – SP, 2022.
CANFIELD, K.N. et al. Science Communication Demands a Critical Approach That Centers Inclusion, Equity, and Intersectionality. Frontiers in Communication, 2020, v. 5.

 

Créditos da imagem: Gerd Altmann (https://www.publicdomainpictures.net/pt/view-image.php?image=364726&picture=diversidade-colorida).

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